terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sucesso eleitoral da Assembleia de Deus na Câmara supera o do PT

A bancada da Assembleia de Deus (AD), maior denominação evangélica pentecostal no Brasil que comemorou seu centenário em 2011, lidera a Frente Parlamentar Evangélica na Câmara, representando 22,5 milhões de brasileiros. Ao todo, 22 deputados federais, de 15 diferentes Estados, representam a igreja. O grupo se reúne todas às terças-feiras à tarde para discutir como se posicionarão frente a determinadas pautas e que medidas tomarão para defender os interesses de seu eleitorado.

Antes das eleições de 2010, o deputado federal Ronaldo Fonseca (PR-DF) reuniu-se com José Wellington Bezerra, presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus (CGADB), para escolher pastores e lideranças da igreja com bom potencial eleitoral. Fecharam a lista em 30 nomes. Conseguiram eleger 22 deles, um percentual de 73,3% de sucesso.

Não há partido político no Brasil com tamanho êxito: o PT, por exemplo, dono da maior bancada da Câmara, lançou 334 candidatos a deputado federal e elegeu 88 deles (26,3%). Dos 73 deputados que compõem a bancada evangélica, os assembleianos são um terço. Seu presidente, o deputado federal João Campos, é membro da igreja.

Com seu eleitorado cativo, os parlamentares ligados à AD podem se dar ao direito de contrariar a orientação partidária quando convém ao seu grupo. Segundo Fonseca, presidente subdivisão ligada à igreja na Câmara, "temos um acordo com nossos partidos: se o que está em pauta na Casa atentar para alguma questão moral, temos independência. Foi assim que derrubamos o kit gay".

O deputado se refere à suspensão da produção e distribuição do kit anti-homofobia, produzido pelo ministério da Educação para distribuição nas escolas. À época, os parlamentares chegaram a ameaçar adesão à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), movida pela oposição, contra o ex-ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, acusado de súbito enriquecimento.

Quase toda a bancada evangélica, 63 parlamentares, faz parte de partidos da base do governo da presidente Dilma Rousseff (PT). "Os partidos sabem que não tem como segurar esses deputados. Falou em aborto, descriminalização da maconha ou casamento gay, os evangélicos votam contra. O PSC é base do governo Dilma, mas nem adianta pedir apoio nessas questões", observa o vice-presidente do PSC, pastor Everaldo Pereira.

Para o segundo semestre, os evangélicos devem, novamente na esteira de atuação dos adeptos da Assembleia de Deus, encampar duas pautas. Uma é a elaboração de versão "alternativa" ao projeto de Lei 122, sob relatoria da senadora Marta Suplicy (PT -SP), que criminaliza a homofobia: "queremos que o empregador possa estabelecer critérios para não contratar alguém. Inclusive por diferenças de religião ou opção sexual", afirma Fonseca, e continua: "Se você não quiser me contratar por eu ser pastor, tudo bem. Mas quero ter o direito de, caso eu tenha uma empresa só com homens, não contratar gay".

A outra é promover um plebiscito nacional que substitua a aprovação do Supremo Tribunal Federal, que julgou constitucional a união civil entre pessoas do mesmo sexo. A reivindicação dos deputados evangélicos ganhou fôlego e substância após a divulgação, na semana passada, de pesquisa do instituto Ibope Inteligência, que revelou que 55% dos brasileiros são contra a união estável para casais homossexuais. O percentual de contrários sobe para 77% entre evangélicos.

Por ora, os assembleianos se dizem satisfeitos com a presidente Dilma: "Ela não nos 'peitou' quando fomos pra cima, no caso do kit gay. Então está bom", diz Fonseca. "Agora, precisa nos receber. Passaram-se seis meses e a gente só conversa com o Gilberto Carvalho [ministro da Secretaria-Geral da presidência]", observa o pastor Everaldo.

Rondônia é o Estado que abriga mais parlamentares ligados à AD, em termos absolutos e proporcionais: três de seus oito deputados federais pertencem à igreja. O PSC, com oito deputados, é o partido preferencial. Na sequência, aparece o PR, com quatro deputados - a sigla tem em suas fileiras muitos evangélicos, mas a maioria é de presbiterianos, como o deputado federal Anthony Garotinho (RJ).

Fonte: O Globo

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